Por dentro do Criança Feliz: entenda como as brincadeiras são essenciais ao desenvolvimento na primeira infância

Conjunto de práticas adotadas por visitadores e supervisores do programa do Governo Federal trabalha cognição, coordenação motora, linguagem e o fortalecimento de laços parentais


Tentar tirar uma tampinha pregada na parede com fita adesiva ou encaixar cotonetes em furinhos de caixa de ovo podem parecer atividades simples ou sem sentido, mas para as crianças do Programa Criança Feliz (PCF) tudo vira brincadeira e aprendizado. O programa gerenciado pelo Ministério da Cidadania utiliza princípios de um método da ONU para trabalhar de forma divertida quatro dimensões do crescimento infantil: linguagem, motricidade, socioafetividade e cognição.

A metodologia Cuidados para o Desenvolvimento da Criança (CDC) é utilizada em vários países e foi adaptada para o Criança Feliz. Ela prioriza o desenvolvimento infantil com brincadeiras simples e trabalha aspectos como coordenação motora, comunicação e linguagem, cognição, interação e fortalecimento de laços parentais.

“Os brinquedos são feitos com os materiais que as famílias já têm em casa, materiais que, na maioria das vezes, são recicláveis. Até uma garrafa pet simples a gente consegue transformar em um lindo chocalho”, exemplifica Isyane Oliveira, visitadora do programa há nove meses no município de Águas Lindas (GO). O chocalho, por exemplo, é indicado dos nove aos 12 meses para estimular musicalidade, linguagem, noção de causa e efeito, desenvolvimento auditivo e a firmeza das mãos da criança.

As informações de qual brincadeira utilizar e para cada faixa etária estão na Cartilha Criança Feliz – Jogos e Brincadeiras. Junto com ela, as equipes do Programa também contam com outros materiais de apoio, como as apostilas dos cursos Guia de Visita Domiciliar (GVD) e Cuidados para o Desenvolvimento da Criança (CDC).


Cuidados e estímulos

O CDC foi elaborado e cedido ao Brasil pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), desenvolvido pela professora e psicóloga social da Universidade de Nova Iorque Jane Lucas.

“O método foi escolhido para o Criança Feliz porque fundamenta-se no cuidado responsivo dos cuidadores e nos estímulos dados às crianças nas diferentes faixas etárias , bem como nos vínculos afetivos estabelecidos entre ela e seus cuidadores. É um  método pautado  na orientação e no apoio aos esforços das famílias em torno do fortalecimento de vínculos e cuidados para o desenvolvimento da criança”, explica Palloma do Monte Belfort, Coordenadora Geral de Formação e disseminação do conhecimento da Secretaria Nacional de Atenção à Primeira Infância do Ministério da Cidadania.

“Brincando, a criança conhece diferentes objetos. É por meio da brincadeira que a criança tem as primeiras sensações, constrói a personalidade e aprende os primeiros valores”, relata Miris Pinto Vitor, supervisora em Águas Lindas (GO) há 11 meses. Segundo ela, as crianças do PCF apresentam desenvoltura diferente das demais. “Quando chega a idade escolar, ela já está bem desenvolvida, já pega no lápis com firmeza, tem a coordenação motora boa”, lista.

Considerado o maior programa de visitação domiciliar do mundo, o Criança Feliz tem como foco acompanhar e estimular o desenvolvimento de crianças até os três anos, idade em que elas conseguem absorver com maior intensidade informações e estímulos que recebem. O programa ainda tem como ponto central a visita sistemática e periódica  a  famílias de baixa renda com gestantes e crianças de 0 a 36 meses inseridas no Cadastro Único, e até os 72 meses para aquelas crianças com algum tipo de deficiência e que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou que estão afastadas do convívio familiar em função de medidas protetivas. O programa completou quatro anos em outubro de 2020 e acumula número superior a um milhão de visitas realizadas. São mais de 898 mil crianças atendidas, 881 mil famílias acompanhadas e 202 mil gestantes orientadas em 2.783 municípios de todas as unidades federativas do Brasil.

“É um investimento que o país faz na primeira infância acreditando que é a melhor forma de romper o ciclo da pobreza. Acreditamos que é uma janela de oportunidade em que nós poderemos colher uma geração mais saudável, com todo o seu potencial de aprendizagem, de socialização e de produtividade”, afirmou a secretária nacional de Atenção à Primeira Infância, Luciana Siqueira.

Formação de cem horas

Os 26.048 profissionais que integram as equipes do Criança Feliz, entre supervisores e visitadores, passam por cursos de capacitação antes de começarem a atuar. A formação mínima é de 40 horas na metodologia do Programa Criança Feliz (art.12 Portaria 956/2018) e há três cursos iniciais obrigatórios que, somados, significam 100 horas de formação. São eles: Curso Básico do PCF, Guia para Visita Domiciliar (GVD) e Cuidados para o Desenvolvimento da Criança (CDC). Outros cursos são ofertados periodicamente e estão disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA do Ministério da Cidadania.

Palloma Belfort afirma que a variedade do material é essencial para que o objetivo seja cumprido. “Durante as visitas domiciliares do PCF é esperada a interação   entre a criança e o cuidador, sempre considerando o olhar da família como fator predominante nesse processo, assim como as especificidades de cada criança”, relata.

Tamires percebe muitas evoluções em Isabel com a ação do programa: "Ela está cada dia mais esperta". Fotos: Francisco Medeiros/Min. Cidadania


Estratégias individuais

Os métodos utilizados permitem que o visitador, junto ao supervisor, tenha autonomia para observar as habilidades da criança e perceber o que pode ser trabalhado e com qual intensidade para que a criança melhore suas aquisições.  Ao iniciar o trabalho com uma família, a visitadora faz uma entrevista para identificar as questões específicas de criança e da família e as habilidades que serão trabalhadas. Ao fim de cada visita, a ficha de orientação “Conversar e Brincar” é preenchida. A partir disso, são definidas estratégias de acordo com a faixa etária das crianças. “Cada criança tem uma ficha, que serve para a conhecer melhor, ter uma ideia do que ela já consegue fazer ou não. A partir daí passo atividades para os cuidadores desenvolverem com as crianças”, afirma Isyane.

Jéssica Ferreira mora em Águas Lindas (GO), é mãe de Wesley, de 11 meses, que está no Criança Feliz desde os 2 meses de idade. Wesley, ao nascer, chegou a ter o diagnóstico de microcefalia, mas após outros exames, teve o diagnóstico inicial descartado. “Foi assustador no início, mas fiz vários exames e viram que, na verdade, ele tem um índice de massa normal, mas a circunferência da cabeça é pequena, o que pode ser genético.” Ela conta como o programa apoiou  o filho. “O desenvolvimento dele tem tudo a ver com o programa. Às vezes a gente pensa que ele não vai dar conta de fazer alguma atividade, que pode ter dificuldades, mas ele vai e consegue. O programa veio para acolher a gente também, a ver coisas que a gente pensava que ele não iria dar conta, mas consegue sim”.  Uma das brincadeiras que ajudam Wesley a trabalhar o movimento de pinça dos dedos é a brincadeira da fita e da bola, voltada para coordenação motora. “A brincadeira que ele mais evoluiu acho que foi a de ir atrás dos objetos, como a bola. Ele não sabia chutar, agora sabe, joga para cima, corre atrás”.

Tamires Aquino é mãe da Isabel, de um ano e sete meses, que está há dois meses no programa e já percebeu diferença no comportamento dela. “Ela está a cada dia mais esperta. Agora, está aprendendo as brincadeiras para desenvolver a coordenação motora”. Sobre as brincadeiras, ela conta o que aprendeu. “Às vezes você não precisa comprar coisas, você tem em casa. Procurei umas tampinhas para improvisar com ela. Às vezes, pego potes de creme de cabelo só para montar um em cima do outro, para fazer uma montanha com ela. Ou pegamos uma lata de manteiga e colocamos coisa dentro para fazer barulho. Pego o caderno, a caneta e vou escrevendo, ela vai imitando também, querendo escrever”.

Segurança e acolhimento

 Os pais são encorajados  a fazerem elogios direcionados à criança, a usar com frequência o sorriso e a troca de olhares, o que gera a autossatisfação com as conquistas e faz com que os pequenos se sintam seguros e acolhidos.

“Eu sempre fui próxima dele, mas o programa ajudou a gente ser mais um do outro, criou um vínculo forte. Ajudou muito o irmão dele também, que é dois anos mais velho. Ele sempre quer participar. O programa veio para aproximar a gente”, relata Jéssica, mãe de Wesley. “É um excelente, recomendo demais. As visitadoras são ótimas, atenciosas e carinhosas”, define.

“O Criança Feliz é apaixonante porque você lida com a transformação da família, vê a diferença no vínculo familiar  e no desenvolvimento da criança”, conclui a supervisora Miris.

Diretoria de Comunicação – Ministério da Cidadania


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