Bate-papo online detalha conquistas, desafios e próximos passos do programa Criança Feliz
Porta-vozes do Ministério da Cidadania adiantam que aprimoramento de sistemas de informação e consolidação de manuais estão entre as inovações previstas. Coordenadores nos estados e municípios relatam ganhos expressivos para famílias e na formulação de políticas públicas
O Criança Feliz tem como foco acompanhar e estimular o desenvolvimento de crianças até os três anos, idade em que elas conseguem absorver com maior intensidade informações e estímulos que recebem. O programa elege como ponto central a visita sistemática e periódica a famílias de baixa renda com gestantes e crianças de 0 a 36 meses inseridas no Cadastro Único, e até os 72 meses para aquelas crianças com algum tipo de deficiência e que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou estão afastadas do convívio familiar em função de medidas protetivas.
“O Criança Feliz funciona como um megafone para reverberar para a sociedade a importância da primeira infância como fase de maior plasticidade cerebral, de maior absorção de conceitos, em que o desenvolvimento integral da criança nos aspectos físicos, socioafetivos e cognitivos estão prontos para receber informações necessárias”, afirmou o secretário especial do Desenvolvimento Social do Ministério da Cidadania, Sérgio Queiroz, no início da live.
Além da face social, Queiroz ressaltou o impacto econômico do programa. “Uma das grandes dádivas do Criança Feliz é trazer a reflexão e a informação de que políticas públicas de primeira infância têm retorno de R$ 1 para R$ 8. A cada real que se investe nessa fase, as pesquisas indicam que R$ 8 são trazidos de volta para a sociedade”, citou, com referência aos ganhos na área de saúde, com crianças mais saudáveis e ativas, na educação, pela capacidade cognitiva e até no impacto futuro de melhores salários, por maior potencial de qualificação.
Manuais e integração de dados
Queiroz enfatizou que, como em qualquer política pública, a implementação do Criança Feliz trouxe insumos para melhorias e ajustes no programa. “O nosso olhar para o futuro não despreza o passado. Há sempre o que fazer para melhorar. Analisando o programa e observando desafios, estamos numa fase de ‘manualização’, de criar manuais para abordagem dos visitadores divididos por faixa etária. Para grávidas, crianças de zero a três meses, de três a seis meses etc. A intenção não é podar a criatividade de quem atua na ponta, mas indicar pontos de início para visitas mais assertivas”, comentou Sérgio Queiroz.
Em outra frente, ele anunciou durante o bate-papo um esforço do ministério para a integração de dados, pautado em cadastramento e georreferenciamento, para saber com mais precisão qual criança está ligada a qual visitador e supervisor, traçar mapas de calor e delimitar com clareza onde os atendimentos estão sendo feitos. “Nossa ideia é criar sistemas de informação mais robustos para termos maior racionalização na escolha de municípios e para premiarmos municípios e gestores que estejam cumprindo as metas”, afirmou. Em outra frente, ele ressaltou a importância da capacitação contínua e da aposta no envolvimento cada vez mais intenso dos pais e dos cuidadores nesse processo.
Vínculos e estímulos
A secretária nacional de Atenção à Primeira Infância, Luciana Siqueira, apontou o entusiasmo de visitadores, coordenadores e gestores do programa em estados e municípios como um diferencial do Criança Feliz. “Uma pesquisa a que tivemos acesso recentemente aponta as mudanças de comportamento de pais e cuidadores, aí envolvidos tios, avós, enfim, quem cuida efetivamente das crianças. A estimulação, o brincar, a leitura e o fortalecimento de vínculos mudam realidades, e muito disso tem a ver com o entusiasmo de quem executa. A gente capta isso em cada viagem e cada conversa com visitadores, coordenadores e supervisores”.
Um reforço a essa percepção veio no depoimento de Marieta Lopes Neta, supervisora do programa no município de Taiobeiras, em Minas Gerais. Ela relatou que o trabalho do Criança Feliz teve início lá com o acompanhamento de 150 famílias, identificadas a partir do Cadastro Único, do Bolsa Família e do BPC. Desse grupo, pinçou a história de uma mãe que teve filho aos 40 anos e que tinha dificuldade de compreender a importância dos estímulos com a criança.
“Ela tinha muitos cuidados com as atividades domésticas, mas não achava importante brincar. Pelas intervenções de nossa visitadora e com a metodologia adequada, mudou completamente o cenário. A família passou a entender o quão importante era tirar alguns minutinhos para realizar atividades de estimulação com o filho, e o estreitamento de laços se fortaleceu.”
O exemplo capixaba
Coordenadora estadual do Criança Feliz no Espírito Santo, Marlei Fernandes explicou que o trabalho das visitas domiciliares abriu portas para a consolidação de uma política estadual robusta e integrada voltada para crianças de zero a seis anos.
“As visitas domiciliares nos aproximaram das famílias e nos permitiram identificar demandas e problemas. Tivemos capacitações e formações continuadas que envolveram as temáticas da primeira infância, com a participação online de cerca de 1.700 pessoas, entre equipes gestoras, visitadores, técnicos de saúde, de educação, integrantes dos CRAS”, descreveu Marlei Fernandes. Segundo ela, as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus em 2020 não impediram que 60 mil visitas do Criança Feliz fossem realizadas no Espírito Santo de janeiro a outubro.
Estratégia paraibana
Gestora de proteção básica de Campina Grande, na Paraíba, Joelma Martins trouxe outro retrato de como o programa se molda a diferentes realidades regionais dentro do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Segundo ela, quando o município aderiu ao programa, havia o desafio de identificar mil famílias para o atendimento.
“A partir das famílias inscritas no Cadastro Único, adotamos uma estratégia de território porque conhecíamos bem as regiões de maior vulnerabilidade, e tivemos alguns focos. Buscamos gestantes adolescentes porque sabemos do risco maior da maternidade nessa faixa etária. Entre crianças com deficiência, demos prioridade àquelas com microcefalia. Fizemos a seleção, a capacitação e colocamos a equipe em campo para explicar às famílias o programa e buscar a adesão”, descreveu.
Nesse exercício de busca ativa, as equipes tiveram a oportunidade de visitar e conhecer com maior detalhamento a estrutura de creches e equipamentos de saúde no município. “O Criança Feliz é realmente um grande ganho para o SUAS, para a primeira infância. É um sucesso em Campina Grande. É visível o quanto os pais e integrantes do programa se transformaram enquanto pessoas e o quanto a compreensão das famílias em relação ao cuidado, à atenção e às brincadeiras ficou mais profunda”, disse.
Joelma relatou, ainda, uma questão típica de gênero que passou a ser flexibilizada diante das visitas domiciliares. “A região ainda tem aquela coisa da 'mulher macho', de homens machistas. Muita gente entende que o papel da mulher é apenas cuidar do filho e que o homem só precisa ser provedor. Com esse trabalho, conseguimos fazer com que o homem perceba o seu papel no cuidado, na atenção. Tivemos até o relato de um pai que nos disse: ‘Olha, moça, eu não sabia que o fato de eu brincar com meu filho, prestar atenção, colocar no braço, ia mudar essa criança. O menino subia pelas ‘comunheiras da casa’ e a gente não conseguia lidar com ele. Hoje ele consegue sentar no sofá, conversar mais tranquilo e assistir televisão conosco”, concluiu.
Diretoria de Comunicação - Ministério da Cidadania
Comentários
Postar um comentário