Secretárias nacionais do MDS relatam desafios das mulheres em cargos de liderança
Ministério é composto por sete pastas, sendo cinco comandadas por elas, que coordenam o Cadastro Único, Bolsa Família, Plano Brasil Sem Fome, a Política Nacional de Cuidados e diversas outras iniciativas de segurança alimentar e nutricional e combate à pobreza
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Fotos: MDS |
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) é composto por sete secretarias nacionais, sendo cinco delas ocupadas por mulheres. São elas que coordenam ações e programas fundamentais para o país, tais como o Cadastro Único, o Bolsa Família, o Plano Brasil Sem Fome, a Política Nacional de Cuidados e diversas outras iniciativas que envolvem a segurança alimentar e nutricional e o combate à pobreza.
A presença feminina em cargos de liderança também é fundamental para garantir que as políticas públicas sejam formuladas com um olhar sensível às questões de gênero, promovendo equidade e assegurando que as necessidades das mulheres sejam contempladas nas decisões governamentais.
Lilian Rahal, graduada em ciências sociais, mestre em sociologia e servidora pública federal da carreira de especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, recebeu o prêmio Global Goalkeeper, concedido pela Fundação Bill e Melinda Gates em 2024, em reconhecimento a sua trajetória.
Ela integra a lista das dez personalidades mundiais destacadas pela instituição por seu impacto na área de segurança alimentar e nutrição. Mesmo com todo esse currículo, ela afirma que o serviço público ainda é um espaço muito árido para as mulheres.
“De maneira geral, constata-se que, quanto mais ‘altos’ os cargos na administração pública são ocupados por nós, mulheres, menos mulheres vamos encontrando pelo caminho. Essa constatação reflete a realidade de um país que precisa seguir avançando sempre, no que se refere aos nossos direitos, ao fim da misoginia e outras violências que nos afetam”, constatou a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
Para Lilian, apesar de se ter muito a comemorar em termos de conquistas na luta das mulheres por respeito e igualdade de gênero, essas conquistas são relativamente recentes e demandam tempo para serem amplamente implementadas.
“Diariamente, nós mulheres, precisamos demonstrar um alto desempenho a fim de provar nossa capacidade ao ocuparmos os espaços de liderança na sociedade – seja no setor privado, seja no setor público. Um caminho árduo que faz com que o desafio de ocupar essas posições de liderança seja ainda maior e mais lento”, complementou.
À frente da Secretaria Extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome, Valéria Burity tem graduação em direito e mestrado em ciências jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba. Desde 2002, atua na área de direitos humanos, com ênfase em Soberania e Segurança Alimentar e Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas.
Ela ressalta que, apesar dos avanços, o machismo ainda é um fator estruturante da desigualdade de gênero. “Mesmo quando assumimos cargos de poder, enfrentamos desafios adicionais para provar nossa competência. Nossas falas são interrompidas com mais frequência e nossa voz é menos ouvida. Como mulher parda, os obstáculos são ainda maiores, pois enfrentamos preconceitos adicionais”, destacou Valéria.
“No entanto, esses desafios só reforçam a importância de continuarmos lutando pela igualdade de gênero e raça e pela inclusão de mais mulheres em posições de liderança”, completou a titular da secretaria responsável pelo Plano Brasil Sem Fome e pelo Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan).
Mulheres na construção das políticas
A socióloga Letícia Bartholo, especialista em Políticas e Gestão Governamental, chefia a Secretaria de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único (Sagicad). Responsável pelo sistema que mostra o perfil das famílias de baixa renda do país, ela tem a missão de coordenar o trabalho para que as informações sejam adequadas e precisas para a inclusão dessas pessoas nos programas sociais.
“Sempre acreditei que um mundo melhor é possível. Escolhi o serviço público porque queria fazer parte dessa mudança, um desejo que trago desde jovem”, afirmou Letícia. “O Bolsa Família só existe porque milhares de mulheres ajudaram a estruturá-lo. São elas que, historicamente, atuam em áreas ligadas ao cuidado, como assistentes sociais e enfermeiras. Quem colocou o Cadastro Único e o Bolsa Família de pé foram inúmeras mulheres, que construíram essa política pública reconhecida internacionalmente”.
E é a Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc), responsável pela gestão do Programa Bolsa Família, que trabalha intimamente ligada à Sagicad. À frente da pasta está Eliane Aquino, cuja trajetória combina ativismo social e gestão pública.
Nascida em Brasília, Eliane iniciou sua carreira como repórter fotográfica, presidiu a ONG Missão Criança Aracaju, dedicada à inclusão social de crianças, adolescentes e suas famílias e, ao longo dos anos, acumulou experiência em diferentes esferas do poder público. Foi vice-prefeita de Aracaju e vice-governadora de Sergipe, além de secretária municipal de assistência social.
Para Eliane, a presença feminina em espaços de liderança ainda enfrenta desafios e requer uma mudança cultural. “Falar sobre mulheres em cargos de poder significa falar sobre uma mudança cultural profunda. O machismo e o patriarcado ainda são muito fortes. Um dos maiores desafios é enfrentar as desigualdades e barreiras institucionais que historicamente favorecem os homens, dificultando a entrada e permanência das mulheres nesses espaços”, analisou.
Para ela, a responsabilidade por um mundo mais justo e com igualdade de gênero deve ser de todos, principalmente no combate à violência e misoginia. “É preciso que toda sociedade se conscientize nessa luta para construirmos um país mais justo, sem violências e muito mais respeito, autonomia e felicidades a todas as mulheres”, prosseguiu Eliane.
“A luta por políticas eficazes para mulheres precisa começar cedo, com ações afirmativas, fortalecimento educacional, criação de redes de apoio, qualificação para a gestão e formação política. Precisamos entender esses espaços e ocupá-los com força e coragem”, refletiu a titular da Senarc.
Outra missão essencial é conduzida por Laís Abramo, socióloga, mestre e doutora em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), ela está à frente da Secretaria Nacional da Política de Cuidados e Família (SNCF), liderando a implementação da recém-sancionada Política Nacional de Cuidados.
A alta carga de trabalhos não remunerados é um importante obstáculo para as trajetórias educacionais e as possibilidades de inserção das mulheres no mercado de trabalho, o que contribui para o aumento da pobreza e da desigualdade. A política visa transformar essa realidade.
“São fundamentais as políticas públicas de cuidado capazes de liberar o tempo das mulheres e ampliar suas oportunidades de participação plena na educação, no mercado de trabalho e na vida pública e de garantir os direitos tanto das pessoas que necessitam de cuidados quanto daquelas que cuidam. Precisamos avançar no reconhecimento, na valorização e na redistribuição do trabalho de cuidado a partir do princípio da responsabilidade compartilhada entre homens e mulheres e entre o Estado, as famílias, o mercado, as empresas e a comunidade”, explicou a secretária Laís Abramo.
Com essas lideranças, o MDS reafirma seu compromisso com a equidade de gênero e a construção de políticas públicas que refletem a diversidade e as necessidades da população brasileira. Além disso, o protagonismo das mulheres na pasta reflete uma mudança cultural no setor público, ampliando as oportunidades para que elas assumam papéis de liderança em áreas tradicionalmente ocupadas por homens.
Assessoria de Comunicação - MDS
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