Reconhecer o trabalho do entrevistador social valoriza gestões do Cadastro Único
Categoria foi incluída este ano na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) para identificar os profissionais que realizam o cadastramento das famílias de baixa renda para acessarem programas sociais
Brasília – Auxiliar administrativo, operacional, dinamizador, digitador, cadastrador e agente mobilizador são algumas das classificações utilizadas para identificar os profissionais que realizam a entrevista com as famílias de baixa renda que são incluídas no Cadastro Único. São muitos nomes para definir uma única função: a de entrevistador social. Este ano, a categoria foi incluída na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), publicada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS).
A solicitação foi feita pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), atendendo a uma antiga reivindicação desses trabalhadores. “Quando eu entrei era meio contraditório, se você era cadastrador, digitador, ...”, conta Flávia Carneiro Bernardo, de 27 anos. Ela trabalha no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Realengo, no Rio de Janeiro, contratada como Auxiliar 1, como consta em sua carteira de trabalho. “No treinamento que fiz, quando ouvi a definição de entrevistador social, eu me identifiquei muito.”
Flávia explica que o termo resume a própria função, que vai muito além de inscrever as famílias no Cadastro Único. “Não fazemos apenas a entrevista, a gente faz mais e forma um time com as assistentes sociais e os agentes comunitários”, afirma. “É a valorização do cargo. Quando me perguntam o que você faz e eu digo que sou entrevistador social, significa que eu tenho um vínculo com a sociedade e faço algo importante.”
Atualmente, em torno de 25 mil trabalhadores ocupam essa função em todo o país. De acordo com a coordenadora-geral substituta de Gestão de Processos de Cadastramento do MDS, Bruna Barreto Bastos, a inclusão da categoria na CBO vai ajudar a diminuir a rotatividade no setor, bem como a incidência de vínculos precários de trabalho. “A CBO estabelece diretrizes sobre as formas de contratação dos entrevistadores pelos municípios. E isso faz com que a própria categoria possa se mobilizar para não ter contratos terceirizados ou contratos não recomendados, como, por exemplo, um aprendiz atuando como entrevistador.”
Entre os parâmetros para atuar nesta função, a CBO exige nível médio completo e processo de capacitação de até 200 horas. Segundo Bruna Barreto, ainda estabelece que o trabalho é desenvolvido presencialmente, no horário diurno e com vínculo empregatício, seja ele por concurso público ou com a carteira assinada segundo as normas da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
Sterferson Teixeira de Oliveira, de 36 anos, ingressou na profissão como estagiário, em 2009. Por dois anos, trabalhou em um Cras de Belo Horizonte. Em 2012, voltou à unidade como apoio administrativo e, em setembro do ano passado, passou para digitador, em função da mudança da empresa contratada pela prefeitura para a prestação de serviço.
Nesse período, houve grande rotatividade dos colegas de trabalho. “Ao longo dos anos que estou aqui, teve mudanças”, diz. “Eles se formam em sua respectiva área e partem para sua profissão”, explica. Ele acredita que a regulamentação vai levar a melhoria das condições de trabalho. E sonha que, no futuro, signifique conquistas, como o estabelecimento de um plano de carreira.
A mesma rotina relata Henrique Pereira de Almeida, de 51 anos. Ele lembra que estava com quase 46 anos quando recebeu o convite para trabalhar no Cras do Cachambi, na zona Norte da capital carioca. Nesse tempo, dois fatos foram frequentes: a capacitação dos profissionais e a troca de parceiros de trabalho. “Diminuir a rotatividade é importante em qualquer profissão”, afirma. Para ele, a nova nomenclatura significa mais vínculo, tanto para o profissional quanto para aquele que é assistido.